Como o início da gestação no momento adequado em uma lactação pode resultar em menos problemas?
Alterações fisiológicas no início da lactação podem alterar a subsequente fertilidade de vacas leiteiras. É comum que as vacas leiteiras percam condição após o parto. Vários estudos demonstraram que a condição corporal baixa ou a perda de condição corporal resulta em menor prenhez por IA (P/IA) no primeiro serviço. Além disso, foi relatado que um aumento significativo da P/IA quando as vacas ganham ou mantem a condição corporal nas primeiras semanas pós-parto.
Foi demonstrado que a saúde da vaca afeta o sucesso reprodutivo. A condição corporal é um indicador chave da saúde da vaca e uma ferramenta útil no monitoramento do estado nutricional das vacas de leite. Alterações na condição corporal no início da lactação estão associados a eventos de saúde pós-parto, como: parto gemelar, distocia, retenção de placenta (RP), cetose, metrite e deslocamento de abomaso. Foi relatado que a ocorrência de uma única doença clínica no periparto pode predispor a outras doenças na corrente ou em futuras lactações, particularmente mastite e doenças metabólicas.
Foi indicado que falhas no desempenho reprodutivo e a baixa condição corporal pode estender o intervalo de parto. A condição corporal de uma vaca durante os primeiros 30 dias em lactação (DEL) pode ser usado como um indicador de intervalo de parto. Intervalo de parto é uma importante variável reprodutiva com consequências econômicas para os rebanhos leiteiros. O intervalo de parto ideal para a maioria das vacas esta entre 12 a 13 meses. Os escore de condição corporal (ECC) são imagens espelhadas das curvas de lactação, por isso é razoável acreditar que vacas com intervalo de parto prolongado podem ficar com alto ECC, resultando em maior perda de condição corporal após o próximo parto e com risco aumentado de mortalidade.
É necessário um maior entendimento da associação entre intervalo de parto prévio, ECC, fertilidade e saúde na lactação subsequente. O principal objetivo deste estudo foi obter uma maior compreensão da associação entre intervalo de parto prévio e mudança de condição corporal durante os primeiros 30 de lactação, e sua relação com a subsequente fertilidade e saúde. Supõe-se que o intervalo parto-concepção (período de serviço) na lactação anterior seria associada à alteração da condição corporal, à saúde e à fertilidade na lactação subsequente. Outro objetivo secundário foi descrever como alterações da condição corporal e outras variáveis estão associadas com fertilidade e saúde de vacas primíparas.
Vacas secas e novilhas (n = 851) de uma única fazenda entraram no estudo aproximadamente 25 dias antes da data de prevista do parto. Os animais tiveram o ECC avaliado semanalmente até o parto, uma semana após o parto e aos 27 e 33 DEL, numa escala de 1 a 5 com incrementos de 0,1 pontos.
O intervalo de parto prévio, duração da gestação, eventos de saúde periparto (parto gemelar, distocia, retenção de placenta, cetose, metrite e deslocamento de abomaso), e dados da produção de leite foram utilizados para cada vaca, conforme registrado no PCDART (Dairy Records Management Systems, Raleigh, NC) pelos gerentes do rebanho.
Todas as vacas receberam a primeira IATF entre 75 a 81 DEL. O diagnóstico de gestação foi realizado 35 dias após a IATF, e as vacas vazias foram ressincronizadas. A gestação foi confirmada entre 60 a 66 dias após a IATF.
Intervalos de parto prévios mais longos foram relacionados a uma maior condição corporal no parto (Figura 1) e perda de condição corporal durante os primeiros 30 DEL (Figura 2).
Vacas com intervalo de parto-concepção menor de 130 dias tiveram 75% mais chance de manter ou ganhar condição corporal na lactação subsequente em comparação com vacas com intervalos de parto-concepção maior que 130 dias (28 vs. 16%; P = 0, 1; n = 475). Ficou claro neste rebanho que o intervalo de parto-concepção em uma lactação pode determinar o que vai acontecer com a condição corporal ao parto e alterações subsequentes durante o início da lactação subsequente.
A maior condição corporal no parto resultou em maior perda de condição corporal durante os primeiros 30 DEL ((n = 787; P < 0,1). As vacas primíparas apresentaram maior condição corporal no parto (3, 1 ± 0, 2 vs. 2,78 ± 0, 1; n = 787; P < 0, 1) e perderam mais condição corporal (− 0,15 ± 0, 1 vs. − 0,11 ± 0, 1; n = 787; P < 0, 1) em comparação com vacas multíparas. Nesse estudo 20% das vacas não apresentaram perda de condição corporal.
Vacas que perderam a condição corporal tiveram maior produção de leite em 30 DEL (n = 720; P = 0,1) e 60 DEL (n = 684; P = 0,1) em comparação com vacas que mantiveram ou ganharam condição corporal (Figura 3).
As vacas multíparas que mantiveram ou ganharam ECC apresentaram maior P/IA após o primeiro serviço comparado com vacas que perderam a condição corporal durante os primeiros 30 DEL quando foram consideradas vacas com ocorrência de problemas de saúde (P = 0,2; n = 577) ou essas vacas foram removidos para a análise (n = 461; Figura 4).
O grupo de vacas multíparas que mantiveram ou ganharam ECC também apresentou maior percentagem de vacas gestantes aos 130 DEL (64 vs. 51%; P = 0,4; n = 334). Primíparas não apresentaram essa relação quando foram considerados as ocorrências de problemas de saúde (P = 0,43; n = 144) ou essas vacas foram removidas para as análises (n = 134; Figura 4). Vacas primíparas (n = 274) tiveram maior P/IA do que vacas multíparas (n = 493) na primeira IA (Figura 4).
Houve uma relação linear entre a perda de condição corporal e a P/IA na segunda (n = 213) e terceira (n = 98) IA em vacas que perderam a condição corporal, mas não para vacas que mantiveram ou ganharam. Vacas com maior perda de ECC durante os primeiros 30 DEL apresentaram reduzida P/IA (segunda AI, P = 0,02; terceira IA, P = 0,03). Assim, parece que quanto maior a percentagem de vacas que mantem ou ganham condição corporal durante o início da lactação, maior as chances de prenhez na primeira e outras inseminações subsequentes. A análise tipo sobrevivência mostrou que o DEL na concepção foi influenciado pela alteração de ECC (Figura 5). Vacas que mantiveram ou ganharam condição corporal tornaram-se gestantes mais cedo em comparação com vacas que perderam ECC durante os primeiros 30 DEL.
Vacas que perderam a condição corporal durante os primeiros 30 DEL apresentaram maior perda de gestação de 35 e 60 dias após a primeira IA em comparação com vacas que mantiveram ou ganharam ECC durante esse período, independentemente se as vacas com eventos de saúde foram consideradas nas análises.
Houve uma relação significativa entre perda ECC e a ocorrência de pelo menos 1 distúrbio de saúde no periparto, dos que foram medidos (RP, parto gemelar, distocia, cetose, deslocamento de abomaso, metrite) em vacas primíparas (n = 262; P = 0,2) e multíparas (n = 525; P = 0,3).
Houve uma relação entre a quantidade de condição corporal perdida nos primeiros 30 DEL e a chance de apresentar pelo menos 1 evento de saúde. Vacas que mantiveram ou ganharam ECC (n = 158) condição corporal apresentaram menos ocorrência de doenças periparto únicas (6 vs. 13%; P = 0,02) ou múltiplas (1 vs. 7%; P = 0,002) comparados com vacas que perderam ECC (n = 629) durante os primeiros 30 DEL.
Com base nos dados deste estudo de um único rebanho, a concepção antes de 130 de DEL pode reduzir a perda de condição corporal após o próximo parto, melhorar a taxa de concepção subsequente e reduzir as perdas de gestações. Esse fenômeno foi denominado de ciclo de alta fertilidade. Para conseguir isso a fazenda deve tentar estabelecer alta fertilidade na primeira IA e garantir intervalo o mais curto possível entre as inseminações subsequentes, para garantir que as vacas fiquem gestantes antes dos 130 dias em lactação.
Figura 1. Relação entre média de intervalo parto-concepção (período de serviço) para vacas multíparas e ECC avaliado na parição subsequente.
Figura 2: Relação entre a média do intervalo parto-concepção (período de serviço) prévio e mudança do ECC do parto ate 27 a 33 dias da lactação subsequente.
Figura 3: Relação entre Manutenção/Ganho de ECC (MGBC) ou perda de ECC (LBC) no primeiros 30 DEL, em vacas primíparas ou multíparas, e a média de produção de leite nos primeiros 60 DEL.
Figura 4: Relação entre Manutenção/Ganho de ECC (MGBC) ou perda de ECC (LBC) no primeiros 30 DEL, em vacas primíparas ou multíparas, e a porcentagem de vacas prenhas 35 dias após a primeira inseminação.
Figura 5: Curva de sobrevivência para estimar o efeito da mudança do ECC nos dias para ficar gestante de vacas primíparas ou multíparas que mantiveram/ganharam de ECC (MGBC) ou perderam de ECC (LBC) no primeiros 30 DEL.
Fonte: Milk Point